Como ser guiado por Deus

 

Por

 

Roger L. Smalling, D.Min

www.smallings.com

 

 

 

 Índice

Características da sabedoria divina. 3

Primeiramente pura. 3

Depois pacífica. 3

Moderada, fácil de se conciliar 4

Cheia de misericórdia e de bons frutos. 4

Sem parcialidade, sem hipocrisia. 4

Sinal nº 1: Orientações pessoais das escrituras. 5

Sinal nº 2: Paz interna. 6

Sinal nº 3: Conselhos pastorais 6

Sinal nº. 4: Portas abertas 7

 

 

Há vários anos, Diana e Eu nos encontrávamos na fronteira sul do Tejas, alistando-nos para entrar no México. Mas não tínhamos a menor idéia de onde ministrar naquele vasto país, de maneira que passamos um dia num hotel buscando a vontade de Deus. Era uma situação missionária típica; não podíamos ficar onde estávamos, mas também não sabíamos aonde ir. O Senhor nos falou por meio de alguns princípios bíblicos.

Enquanto orávamos, sentimos paz e que deveríamos ir à próxima cidade mais grande do México, mais além das cidades fronteiras. Esta era a Ciudad Victoria, aproximadamente 320 Quilômetros ao sul de Tejas. Numa igreja em Tejas tínhamos o nome dum missionário, a quem não conhecíamos pessoalmente. Desta maneira saímos dali no dia seguinte.

Ao chegar na Ciudad Victoria, procuramos o missionário. E ele nos explicou como desejava iniciar outra igreja num setor da cidade na qual não havia nenhuma igreja, porém devido a sua próxima transferência para Guadalajara não tinha tempo. Ele nos apresentou a uma família que queria começar uma igreja na sua propriedade. Desfizemos nossas malas e nosso ministério em México começou ali. A Palavra pessoal que Deus nos deu se cumpriu totalmente.

Esta história soa como se houvéssemos achado a vontade de Deus pela sorte, através duma simples cadeia de acontecimentos. Entretanto recordo vivamente o sentimento de incerteza enquanto buscávamos a orientação divina naquele quarto do hotel.

É normal encontrarmo-nos embaraçados acerca da vontade de Deus de vez em quando? Durante um estudo bíblico recente acerca da Orientação Divina, um novo convertido se queixou de que a vontade de Deus é, algumas vezes, difícil de encontrar. Por que não fala o Senhor em voz alta e diz com clareza o que Ele quer?, perguntou este novo crente. Porém não devemos imaginar que algo vai mal só porque a vontade de Deus se mostra temporariamente obscura. Se existem boas razões para que Deus permita isto.

Às vezes o Senhor nos comunica de maneiras inesperadas tais como uma impressão interior ou experiências espirituais diversas. Tais experiências não deixam lugar para dúvidas.

Porém, descobrir a vontade de Deus é normalmente muito mais difícil que isto. É como se Ele escondesse Sua vontade. O Cristão pode ser obrigado a atuar como um detetive, buscando evidências. Agente se vê obrigado a esquadrinhar a Palavra, orar, e buscar conselhos. O processo simplesmente não é fácil.

Às vezes desejamos que Deus falasse mais alto. Inclusive se podem desenvolver sentimentos de inferioridade, perguntando-nos se algo está mal conosco, porque não ouvimos claramente a Deus.

Poucas coisas irritam-me mais que uma pessoa orgulhosa e jactanciosa atuando como se sua relação com Deus é tal que sempre discerne a vontade de Deus corretamente e instantaneamente. Não confio em tais pessoas. Tanto a Palavra de Deus como a experiência dos cristãos através dos tempos indicam que semelhantes declarações jactanciosas têm suas raízes no orgulho e espiritual em vez de uma experiência genuína.

A orientação divina está baseada na Sabedoria Divina. Efésios 5:17 claramente vincula a sabedoria com o entendimento da Vontade de Deus. Não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. Já que ninguém alcança uma sabedoria perfeita nesta vida, se entende que todos temos muito que aprender sobre como receber a orientação divina.
O elemento de mistério em encontrar Sua vontade existe para provocar o crescimento em sabedoria e o conhecimento espiritual. Por isso, vale a pena passar mais tempo estudando a Sabedoria Divina que em todos os outros aspectos da orientação. Olhemos algumas destas características em Tiago 3:17:

Mas a sabedoria que vem lá de cima é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, fácil de se conciliar, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, sem hipocrisia. (Bíblia Tradução Brasileira).

Entender as características da sabedoria é uma coisa. Lograr a sabedoria é outra. Porém um estudo das características envolvidas é o único ponto de partida racional. Mas não imaginemos que se requer um nível alto de sabedoria para nos capacitar a seguir fielmente ao Senhor. Tal temor pode neutralizar nossa confiança no que se refere ao tomar decisões definitivas. Não, o único requisito para compreender as características da Sabedoria Divina, e conseguir tomar decisões firmes no Senhor, é a habilidade de ler Tiago 3:17.

 

Quando confrontamos uma decisão importante, sempre vale compará-la com esta passagem. Se todas as características mencionadas nesse texto concordam com o que nos propomos fazer, a decisão provavelmente é correta. Se falta qualquer das características, especialmente a primeira, então é uma armadilha satânica. Deus, a fonte de toda sabedoria, nunca passa por alto alguma destas características.

 

Analisemos pois, ponto a ponto, estas características:

Características da sabedoria divina

Primeiramente pura

 Satanás pode falsificar qualquer aspecto da Sabedoria Divina indicado em Tiago 3:17, menos a pureza. Qualquer duplicidade, mentira ou engano, supostamente por inocente que seja, é evidência suficiente de que a decisão proposta é de origem diabólica.

Durante nosso ministério no Equador, um casal nos Estados Unidos ofereceu-nos um carro. Parecia uma resposta genuína das nossas orações. A pesar de que intervinham certas restrições de importação, uma pequena mentira branca ao governo equatoriano podia resolver tudo. Depois de tudo, raciocinamos, o capricho do oficial é, na prática, a única lei que se pratica nestes assuntos; de maneira que estávamos seriamente tentados a participar nesta "mentira branca".

Porém, não tínhamos paz, de modo que buscamos a Deus e Ele nos indicou Tiago 3:17 e a palavra "pura". Rejeitamos a oferta bondosa. Mais tarde, Deus nos deu um veículo por outro meio honroso.

Depois pacífica

Muitas vezes duas opções lícitas se apresentam. Qual das duas provoca unidade e paz? Qual tende para a dissenção? Tal pauta ajuda-nos a distinguir qual é a vontade do Senhor. Raras vezes o Senhor nos leva a tomar decisões que provocam desavença e confusão.

Digo "Raras vezes", porque existem às vezes circunstâncias que requerem decisões controversas. A mesma justiça é, muitas vezes, a causa de dissensões. Por isso a pureza ocorre primeiro na lista das características da sabedoria divina e a paz, "depois". Tiago cuida em fazermos notar que estas características têm uma ordem de prioridades. Elas não são igualmente importantes.

Alguns cristãos desejam a paz entre os irmãos a tal extremo que estão dispostos a sacrificar a justiça, ofuscar a verdade, ou permitir que o pecado e a falsa doutrina continuem em vez de reprová-los. Quando sacrificamos a pureza em favor da paz, no final, perdemos ambas.

 

Paulo disse: “...quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; (Rom. 12:18). Reconheceu que a paz não é sempre possível. Nem entre irmãos em Cristo. Especialmente quando insistimos sempre na pureza primeiramente.

Entre os cristãos que verdadeiramente amam a verdade haverá, normalmente, um sentimento geral de paz se a decisão procede do Senhor. Os conselhos de um grupo de crentes piedosos podem significar para nós o mesmo que uma soga de segurança para um andinista.

Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança. (Prov. 11:14).

Moderada, fácil de se conciliar

 A palavra "moderada" traduz uma palavra no original grego que comunica o conceito de "razoável". Contrário aos conceitos de alguns místicos, o processo de achar a vontade de Deus está envolvido, normalmente, com a razão.

 

"Fácil de se conciliar", tem o mesmo sentido de “moderada”. Alguns comentaristas bíblicos explicam esta frase como "disposto a ceder à razão". O leitor encontrou alguma vez com um fanático que está tão seguro de si mesmo que é impossível racionar com ele? Ter uma mente aberta para novas evidências nos pode evitar muitos erros. Mas quando a mente se fecha para novas evidências, muitas vezes chega a fechar-se para Deus.

Cheia de misericórdia e de bons frutos

Qual é o resultado final da decisão a tomar? O que produz? A quem ajuda? E como? Tais perguntas iluminam nas decisões importantes.

Sem parcialidade, sem hipocrisia

Dois jovens, novos convertidos, começaram a receber o que eles supunham que eram mensagens orientadoras de Deus. Porém juntamente com estas revelações veio a idéia de que deveriam ocultar estas "mensagens" do seu pastor. Isto aconteceu por algum tempo, até que algumas das mensagens começaram a tomar aspecto um pouco estranho.

Eventualmente, um dos jovens começou a suspeitar que estas revelações não eram, depois de tudo, de Deus. Ele perguntava a si mesmo, se era lógico que o Espírito Santo lhes revelara coisas a dois jovenzinhos e que Ele as escondera do líder espiritual. Após falar com seu pastor, os jovens se deram conta, é claro, que estavam prestando atenção a um espírito enganoso.

Tiago ocupa-se em mostrar a diferença entre a sabedoria humana e a Sabedoria Divina. Isto se resume em duas palavras: Orgulho vs humildade. Mas o orgulho em questão é da classe mais sutil e perigosa: O orgulho espiritual. Este vício é o mais enganoso de todos porque a vítima pode considerar-se a si mesma sábia, enquanto abriga ciúmes e ambições egoístas.

Eu considero o famoso escritor e teólogo, Dr. Francis Shaeffer,  o homem mais humilde que conheci em toda minha vida, o que tem sido um grande privilégio para mim, pelo simples motivo: Tinha quatro títulos de doutorado, sem falar de sua fama mundial como autor destacado, conferencista, e defensor do Evangelho, havendo derrotado em debates públicos a numerosos oponentes do Evangelho. No entanto, ao conhecê-lo pessoalmente, a primeira coisa que notei nele foi sua conduta modesta e afável. Isto parece contraditório, mas na realidade, a sabedoria genuína se manifesta desta maneira. Tiago teria entendido bem o Dr. Shaeffer.

Uma última precaução antes de proceder a outros sinais da vontade do Senhor: Nunca Atue Baseando-se Numa Só Evidência.

Quando viajávamos de Los Angeles a Houston de carro, notei que o Departamento de Estradas havia colocado rótulos em intervalos regulares para segurança do viajante. As estradas longas e solitárias através do deserto podem levar  alguém a duvidar se realmente está no caminho correto, se não fosse por esses rótulos. Um rótulo só, no princípio da viagem, não bastaria para certificarmos que estamos na estrada correta.

O mesmo acontece com a orientação divina. Necessitamos "indicações" a cada momento para assegurarmos de que estamos no bom caminho da vontade de Deus.

 

Um só versículo, ou uma só visão, ou um só conselho acerca de um determinado assunto importante não são suficientes. Peça ao Senhor outras duas ou três "indicações" como confirmação. Não tema que isto desagrade a Deus, se lhe pedir outro sinal. Não é falta de fé pedir tal confirmação. É sabedoria.

 

Um exemplo: O grande Apóstolo Paulo orou três vezes ao Senhor para que lhe tire o espinho da sua carne. Obviamente estava inseguro por um tempo acerca da vontade de Deus. Aparentemente, não o via nem como falta de fé, nem como presunção insistir em que Deus lhe responda de uma maneira clara.

 

As pessoas muitas vezes ver a atitude de Gideão como falta de fé,  quando ele pediu confirmação pelos velos de lã. No entanto, se um anjo me dissera que ataque a 100.000 homens armados, eu também queria uma confirmação! Não vejo nenhuma evidência bíblica de que Deus fica aborrecido se nós pedimos uma confirmação de Sua vontade.

 

Agora vejamos alguns "sinais" por meio dos quais Deus confirma Sua orientação em nossas vidas:

Sinal nº 1: Orientações pessoais das escrituras

 

Ao lê a Bíblia durante seu tempo devocional diário, esteja atento ao Espírito Santo. Às vezes, Deus ilumina versículos em nossos corações como indicações acerca da Sua vontade. Muitas vezes se destacarão versículos que parecem falar-nos diretamente e pessoalmente. Anote estes versículos num caderno. Depois de alguns dias ou semanas, parecerá um padrão geral de idéias que dará uma indicação clara da vontade de Deus.

 

O Espírito Santo tende a falar-nos pessoalmente desta maneira a medida que lemos a Bíblia com precaução. Desta maneira a Bíblia logo toma vida para nós, segundo nossa leitura, muda de um dever religioso a uma experiência emocionante de orientação e promessas pessoais.

 

É bíblico usar a Bíblia desta maneira? Claro que sim! Em Atos 13:47, Paulo cita a Isaías em seu sermão em Antioquia da Pisídia. Ele diz no contexto que Deus lhe disse, por esse versículo, que vá em viagem missionária. Se olharmos a Isaías 42:6, o texto que Paulo citava, vemos que se refere a uma profecia para Israel como Deus ia  usar aos Judeus para distribuir a luz da Palavra aos gentios.

 

Evidentemente, ao ler este texto, o Espírito lhe falou duma maneira pessoal, indicando Sua vontade. Além do mais, Paulo era um judeu iluminado pela Palavra de Deus.

 

É lícito usar a Palavra de Deus desta maneira se não abusamos do sentido original, nem baseamos doutrinas em semelhantes aplicações pessoais. Paulo não afirmava que todo judeu deve sair em viagens missionárias.

 

Não preciso nem dizer que Deus nunca guia a uma pessoa contrariando os princípios da Sua Palavra. No entanto, continuamos encontrando gente que se atém a doutrinas ou a guias totalmente contrários às Escrituras, baseando-se em sonho, em uma impressão interna ou semelhante experiência. Os cristãos sensatos não aderem a tais práticas.

Sinal nº 2: Paz interna

"Reine em vossos corações a paz de Cristo...

(Colosenses 3:15)

 

Quando se apresentam duas decisões difíceis, a paz de Deus que normalmente governa em nossos corações nos pode ajudar a fixar a vontade de Deus. Ao escolher um dos caminhos, a paz desaparecerá se a decisão está equivocada. Se a paz vem de novo, ao tomar o outro caminho, é provavelmente a decisão correta.

Sinal nº 3: Conselhos pastorais

 Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas,... (Hebreos 13:17)

 

Homens de Deus, com anos de experiência, sabem normalmente detectar armadilhas satânicas. Ainda melhor, sabem diferenciar os elementos mistos nas mesclas sutis da verdade e do erro, as quais Satanás prepara para confundir aos cristãos. Ao passar isto por alto, os pastores, como recurso divino, seria indispensável.

 

No entanto, esta verdade, como muitas outras, tem outro lado. Nem todo pastor está apto para ajudar em assuntos de orientação divina. Um pastor sábio não é imponente nem autoritário nos seus conselhos. Um guia de excursões de montanhas sabe que caminhos tomar, onde se acham os barrancos, e como usar as cordas. Mas ele não caminha detrás de seus seguidores com um chicote forçando-lhes a realizar o que ele considera conveniente.

 

Alguns ministros imaturos consideram sua função como controlador e manipulador do rebanho. Alguns inclusive imaginam ter um dom especial para saber a vontade de Deus para todos ao seu redor. Estes ministros são péssimos conselheiros.

 

O melhor conselheiro pastoral é aquele que ajuda ao crente a ouvir de Deus por si mesmo.

Sinal nº. 4: Portas abertas

...eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar... (Apo. 3:8)

 

 porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários. (I Cor.16:9)

 

Se refere aqui a boas oportunidades para ministrar. Se a oportunidade não entra em conflito com as características da sabedoria divina, é, normalmente, a vontade de Deus.

 

Note que Paulo menciona adversários. Algumas vezes entendemos mal e deduzimos, equivocadamente, que a presença de adversários indica que a "porta" não é de Deus. Porém o contrário é às vezes a verdade. Estamos em uma guerra espiritual. Conflitos com forças de maldade são inevitáveis.

 

Os pontos acima mencionados garantem 100% de exatidão em conhecer a vontade de Deus? Certamente que não. Deus usa a Orientação Divina como um meio para nos ensinar sabedoria. E em vista de nossa necessidade de continuar aprendendo no transcurso de nossa vida, Deus nos faria uma injustiça se sempre nos permitisse essa exatidão. Ademais, Deus quer que o elemento fé esteja sempre presente em nosso caminhar com Ele. Como pode estar a fé envolvida se não há riscos?

 

Aqueles que insistem em encontrar algum sistema perfeito de Orientação Divina estão envolvidos numa busca inútil. E aqueles que proclamam haver encontrado dito sistema, se enganam a si mesmos. Nossa fé está em Deus, e não  nos princípios ou sistemas. No entanto, Deus usa estes princípios para nos guiar. Esta distinção recorda-nos de que a vida cristã não é um mecanismo, senão uma relação com um Deus bondoso. Um Deus bondoso que não deseja que caiamos, mas ao mesmo tempo muitíssimo sábio para permitir que o caminho seja fácil.

 

 

Àquele que vos pode guardar de tropeçardes e vos apresentar diante da sua glória sem defeito em grande gozo,ao único Deus nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, seja glória, majestade, domínio e poder antes de toda a eternidade, e agora e por todos os séculos. Amém. Judas 24-25

 

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